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Anglicanos: conversão de fato, ou somente de direito?

In Doutrina Sólida on outubro 24, 2009 at 8:19 pm

Virou coqueluche falar sobre as recentes notícias vindas de Roma, informando sobre o fim do cisma da Comunhão Anglicana Tradicional. Por um lado, os católicos conciliares estão radiantes com esta demonstração cabal — finalmente! Antes tarde do que nunca! — dos bons frutos da empreitada ecumênica; por outro lado, os modernistas e progressistas estão eufóricos por encontrarem, na concessão feita por Roma para que os ministros anglicanos casados sejam admitidos ao presbiterato, o início do fim do celibato clerical católico-romano. Ninguém, contudo, parece analisar a situação da forma como ela deve ser analisada.

Antes de tudo, convém relembrar a Doutrina Católica, tão esquecida neste longo inverno pós-conciliar: os hereges e cismáticos serão votados ao fogo eterno, a menos que se unam à Igreja Católica antes de sua morte, não importa quão numerosas sejam suas esmolas ou ainda que vertam o seu próprio sangue em nome de Cristo: assim se expressa o infalível Concílio de Florença.

O Ecumenismo do Concílio Vaticano II — que diz que todas as religiões são boas e levam ao Céu — não pode contradizer este dogma, ligado na Terra pelo Sucessor de Pedro e, por conseguinte, ligado também nos Céus, conforme a promessa de Nosso Senhor.

Não pode! Anathema sit!

Mas no que consiste a comunhão com a Igreja Católica?

É uma comunhão de Fé, em primeiro lugar. Tanto que a heresia — negação pertinaz de qualquer verdade que se deva crer com Fé divina e católica — rompe a comunhão com a Igreja. Em outras palavras: quem não tem íntegra a Fé Católica, não faz parte da Igreja de Nosso Senhor.

Ainda que receba a chancela de documentos pontifícios…

Ora, fala-se da volta dos anglicanos à comunhão plena e visível com a Igreja Católica meramente em termos jurídicos. Fala-se que o Papa está elaborando instrumentos canônicos que permitam a sua plena integração à Igreja. Fala-se que o Papa está criando — imagine-se só! — um “Ordinariato Pessoal” que possa abrigar os egressos hereges.

A Igreja fundada por Cristo não tem “ordinariatos pessoais”. Nem administrações apostólicas pessoais, nem prelazias pessoais, nem nada dessas complicações canônicas pós-conciliares. A Igreja fundada por Nosso Senhor é muito simples: tem o Papa e tem bispos, tem padres e tem o povo fiel. Tem paróquias e tem dioceses. Os fiéis pertencem à paróquia, esta pertence à diocese e esta última, por sua vez, pertence à Igreja. Simples. Sem muitas firulas jurídicas.

Qual a necessidade de se criar tantas circunscrições eclesiásticas diferentes? Será que os doutores da Gregoriana sabem, a propósito, explicar claramente qual a diferença entre elas? Duvidamos. E por que todas elas são “pessoais”? A Igreja não é “pessoal” — isso é subjetivismo romântico, e não Doutrina Sadia! A Igreja é católica, i.e., universal. E universal é o oposto de pessoal. Como “coletivo” é oposto de “indivíduo”.

A verdade, que transparece claramente — quem tiver olhos para ver, que veja! — de todos esses malabarismos canônicos, é uma só: hoje em dia, não se preocupa com a comunhão de Fé. Quer-se simplesmente arrumar algum artifício jurídico para regularizar a situação canônica, que possa ser “arrumada” por cima dos problemas doutrinários, ao invés de proceder à verdadeira conversão do coração. Coloca-se o munus regendi acima do munus docendi, o que é um absurdo.

Um erro colossal. Colossalmente conciliar.

Claro que a comunhão jurídica é importante, e é óbvio que o Código de Direito Canônico é útil. Mas o Direito Canônico não substitui o Catecismo, como se está fazendo hoje em dia. As leis eclesiásticas não substituem a Fé. De que adianta poder ostentar na fachada da igreja o pomposo título de “Ordinariato Pessoal”, se não se guarda íntegra a Fé Verdadeira?

Antes de nos acusarem de estar julgando levianamente o interior das pessoas, tenham a gentileza de observar as matérias — todas, sem exceção — sobre o assunto que estão sendo divulgadas. Ora, todos sabemos que há uma multidão de pontos da Doutrina Católica que não são aceitos pelos protestantes. Alguém noticiou “anglicanos aceitam a infalibilidade do Papa”? Em algum lugar se leu “Comunhão Anglicana Tradicional abjura as suas heresias e abraça a Fé Verdadeira”? Encontrou-se em algum lugar “Igreja Anglicana aceita a natureza sacrifical do Sacrifício Eucarístico”?

Em nenhum lugar essas informações são encontradas. Apenas as cambalhotas canônicas do Vaticano são noticiadas.

Se só se falam nos aspectos jurídicos da “conversão” dos anglicanos, como é que nós poderíamos falar sobre os aspectos doutrinários — estes sim mais importantes? Percebam os que nos acusam de serem levianos que são eles próprios a agirem com leviandade. Levianamente têm como certo que as barreiras doutrinárias que afastavam hereges protestantes de católicos romanos foram ultrapassadas. Quem disse que o foram?

Queira Deus que tenham sido.

Queira Deus que este retorno da Comunhão Anglicana Tradicional à Igreja Católica seja um retorno de fato, e não somente de direito. Porque o problema canônico é, quase sempre, fácil de ser resolvido. É no interior da alma que reside a diferença entre aquele que tem Fé e aquele que não tem. É esta a conversão verdadeira, este é o fim que deve ser almejado. Isto é o que importa.

Queira Deus que tenha sido desta natureza a conversão dos anglicanos. Mas, infelizmente, isso não se depreende das notícias que nos chegam de Roma.

Infelizmente…

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